terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Vergonha de Ser...Gordo.

Todo ser humano, desde a infância, tem uma motivação básica: procurar ver-se como alguém dotado de valor positivo. Busca, durante toda a vida, o reconhecimento de suas qualidades pelos outros, o respeito às suas opiniões e idéias. Julga a si mesmo comparando-se a ideais de como deveria ser. Tenta agir de acordo com o que aprendeu ser certo e bom. Busca ser amado e admirado. Quer ter sucesso em suas ações. Defende-se vigorosamente de humilhações.

Roger Perron, vinculando a consciência de si a uma qualidade sempre valorativa, escreve: “as imagens de si são construídas como conjunto de valores. Todas as características pelas quais o sujeito pode se definir são, com efeito, sentidas, em graus diversos, como desejáveis ou não. E há mais: no mais íntimo da consciência de si – do sentimento de ser um Eu, distinto de todos os outros – reside a sensação de ser valor como pessoa".

E quais os valores atribuídos atualmente às pessoas com excesso de peso? Como definimos - e se definem - tais pessoas, em termos de valor pessoal?

Os obesos têm que lidar, o tempo todo, com a exposição excessiva de sua "fraqueza", ou seja, de seu corpo acima do peso. Exposição constante aos olhos de uma sociedade cheia de preconceitos, e de si mesmos, também cheios de preconceitos. O gordo é visto, apontado, julgado, discriminado, ridicularizado, desacreditado. A suscetibilidade à vergonha é muito grande; o corpo o faz visível, literalmente, e sujeito, o tempo todo, às avaliações dos outros.

Na realidade, a crença em relação à virtude da restrição alimentar está presente em todos nós. De certa forma, pensamos a intemperança como sinal de fraqueza moral e, no âmbito alimentar, ela está em igualdade moral com outras formas de transgressão. A gula nos ofende. Além disso, em nossa época e em nossa cultura, existe uma clara valorização do corpo, do ponto de vista da aptidão física e do ponto de vista da interação social. À valorização do corpo se contrapõe a condenação dos corpos discrepantes ou desleixados. Das academias às clínicas de estética, passando pela voga dos regimes e das cirurgias plásticas, os instrumentos e serviços criados para aumentar a saúde e embelezar as aparências fazem muito sucesso na população em geral.

As mulheres atualmente ainda enfrentam o problema social da gordura e da magreza mais do que os homens. Tem a ver com a disponibilidade do corpo feminino ao olhar público, o sentimento de impotência e a necessidade de aprovação que enfrentam em nossa sociedade. Qualquer mulher cujo corpo não se aproxime da limitada recomendação imposta pela cultura tende a se sentir vulnerável e em desvantagem. Não apenas em termos de estética: mas em termos de seu valor como pessoa.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Programa Freud Explica: Obesidade

Bati um papo com a minha irmã Taty Ades no programa Freud Explica. Falamos sobre obesidade. Confira!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O sucesso de uma dieta está ligado ao acompanhamento psicológico?



Acredito que a Psicologia tem um papel cada vez mais indispensável no emagrecimento. Além de auxiliar a pessoa a aderir às orientações do nutricionista e a persistir no processo de mudança de hábitos, é responsável por trabalhar diversos aspectos comportamentais, cognitivos e emocionais sem os quais a pessoa não obterá sucesso, principalmente em longo prazo.

Quantas e quantas vezes decidimos emagrecer, sabemos a dieta alimentar de cor, mas não conseguimos segui-la por muito tempo? Saber o que e quanto comer é obviamente necessário; o fato de querer ser mais magro e saudável também, mas nenhuma das duas coisas é suficiente para que se tenha sucesso no emagrecimento.

O comportamento alimentar é muito complexo, com diversos determinantes, nem sempre claros para nós. O emagrecimento exige mudança de atitudes (nem sempre no âmbito da alimentação), aprendizagem, tentativa e erro. Exige esforço e tempo. E uma clareza mais realista do processo que esta por vir.

Uma avaliação psicológica cuidadosa inicial é muito importante, exatamente para que possamos captar de antemão o que pode tornar o seguimento da dieta um fracasso. A presença do Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (Transtorno Alimentar no qual há a ingestão, sem controle, de grandes quantidades de comida, porém sem comportamentos compensatórios, como na Bulimia Nervosa) é um exemplo disso. Se não for tratado adequadamente, de nada adianta começar uma mudança alimentar. Mas acredito que não é apenas quando alguma psicopatologia esteja presente que a Psicologia se faz necessária.

Algumas expectativas irrealistas também interferem muito no processo. Por exemplo, a expectativa de um milagre é muito comum. A pessoa muitas vezes coloca toda a responsabilidade na dieta em si, no método novo, no remédio novo... Ou seja, a responsabilidade está toda fora dela. Com essa crença irrealista, quando não dá certo, ou acredita que a dieta era ruim, ou a pessoa acha que não possui “força de vontade”. Vira uma sucessão de dietas fracassadas, criando uma sensação de desamparo, de descrença na própria capacidade de modificar alguma coisa. Cada vez fica mais difícil de dar certo.

Outro exemplo de expectativa distorcida é achar que se deveria seguir uma dieta perfeitamente, tintim por tintim, sem espaço para escorregões. Acha-se que quem consegue emagrecer é porque segue tudo à risca. Com esse pensamento, é fácil entender que quando não se consegue seguir o script, o sentimento é o de que se colocou tudo a perder, que tudo deu errado. E se abandona tudo. A Psicologia pode ajudar a se lidar com o erro de forma construtiva.

Além disso, a abordagem da motivação é essencial. Muitos estudos em Psicologia tentam compreendê-la em processos de mudança de hábitos em longo prazo, necessários no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade. Sabe-se, por exemplo, que o foco na meta final (no caso, atingir o peso desejado) é responsável em grande parte pela decisão de mudança, pelo comprometimento inicial com a reeducação alimentar. Porém, quanto mais a pessoa conseguir motivar-se com o processo em si, com cada passo dado, mais longe irá na obtenção de seus objetivos. Ou seja, se ficar apenas fixada no peso, tende a desistir ou fracassar mais cedo.

Na minha prática clínica, embasada na abordagem Cognitivo-Comportamental, lido com essas questões: o autoconhecimento e maior clareza dos próprios comportamentos e motivações, a imagem corporal, a mudança de comportamentos e cognições (pensamentos, crenças e imagens mentais), mudanças necessárias no ambiente para que seja possível o autocontrole, o treino de estratégias que auxiliam no controle e na manutenção do peso perdido, técnicas de controle de estresse, de se lidar com ansiedade e tédio, para melhorar as noites de sono. Tudo isso em direção a uma maior autonomia nas atitudes de mudança de hábitos, à aprendizagem de um método de ação, passível de ser aplicado em diversos momentos e situações da vida.