segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Estudo liga hábito de comer rapidamente à obesidade




Comer muito rapidamente pode ser o suficiente para quase dobrar o risco de uma pessoa ser obesa, segundo um estudo de pesquisadores japoneses.

Cientistas da Universidade de Osaka analisaram os hábitos alimentares de cerca de 3 mil pessoas e relataram os resultados no British Medical Journal.

O estudo examinou a relação entre a velocidade na hora de comer, a sensação de estar "cheio" e estar acima do peso.

Quase metade dos voluntários disse que tinha a tendência de comer rapidamente.

Comparados com quem não comia rapidamente, os homens com esse hábito tinham 84% mais chances de estar acima do peso, e as mulheres tinham duas vezes mais chances.

Além disso, aqueles que, além de comer rapidamente, tinham a tendência de comer até se sentirem "cheios", tinham mais que o triplo de risco de estar acima do peso.

'Sinais do estômago'

O professor Ian McDonald, da Universidade de Nottingham, disse que há várias razões pelas quais comer rapidamente pode contribuir para a obesidade.

Segundo ele, o hábito pode interferir com o sistema de sinalização que diz ao cérebro para parar de comer porque o seu estômago está cheio.

"Se você come rapidamente, você está enchendo o seu estômago antes que essa sinalização ocorra", afirmou.

Jason Halford, diretor da Kissileff Human Ingestive Behaviour Laboratory da Universidade de Liverpool, disse que a maneira como comemos está cada vez mais sendo vista como uma área-chave em pesquisas sobre obesidade, especialmente desde a publicação de estudos destacando a existência de uma variante genética ligada à "sensação de estar cheio".

Um estudo de Halford, publicado recentemente no Journal of Psychopharmacology, concluiu que um remédio usado contra a obesidade funcionava ao desacelerar o ritmo no qual pacientes obesos comiam.

"O que a pesquisa japonesa mostrou é que as diferenças de hábitos alimentares entre indivíduos levam ao consumo exagerado e estão relacionados à obesidade", afirmou.

"Outras pesquisas encontraram evidência de que isso acontece na infância, sugerindo que esses hábitos podem ser herdados ou aprendidos bem cedo", completou.

Ele disse, no entanto, que ainda não há evidência de que tentar diminuir o ritmo das refeições das crianças pode ter um impacto em níveis de obesidade no futuro.

abril.com.br                                              

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A meta deve ser o prazer no processo


Acabei de ler um estudo recente, de Fishbach e Choi, publicado no periódico Organizational Behavior and Human Decision Processes - com o título: Quando pensar sobre os objetivos compromete sua busca. Gostei. Fala de algo que é uma das principais questões enfrentadas quando se trabalha com processo de mudança de hábitos: como fazer para que a motivação se mantenha, já que tal processo geralmente é longo e penoso?

Os pesquisadores afirmam que colocar o foco em metas ajuda-nos a entrar em ação, que nos encoraja a começar uma nova atividade. No caso de pessoas com sobrepeso, por exemplo, o foco inicial na perda de peso seria motivador. No entanto, eles também sugerem que demasiada ênfase no resultado reduz a motivação para continuar na atividade ao longo do tempo! A ênfase na própria experiência é, esta sim,  mais importante para manter os esforços em direção à mudança de hábitos. Ou seja, em sistemas complexos, nos quais as mudanças devem ocorrer em vários comportamentos, o feedback é mais efetivo quando baseado no processo e não na consequência.

Assim, reformular como pensamos a manutenção de comportamentos saudáveis pode ajudar a mudança de comportamentos em longo prazo. Não devemos ignorar a colocação de metas, mas sim utilizá-las nos momentos mais propícios, principalmente para se iniciar a mudança. No encorajamento da manutenção das mudanças ao longo do tempo, devemos nos concentrar no prazer da experiência, e não nas metas finais. Sempre falo aos pacientes que é bom tirar o foco do peso, e colocar nas mudanças de comportamento que vão sendo alcançadas. Também digo que não há como perder peso sem buscar algum prazer no processo.

Como muito bem coloca Yoni Freedhoff, do blog Weighty Matters, o único objetivo que é justo colocar é o de se viver a vida  mais saudável possível, de uma forma que você pode desfrutar!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Planejamento é super-importante


 
Estive pensando em algo que surgiu durante uma sessão, conversando com uma paciente a respeito das dificuldades em adquirir e consolidar hábitos novos de alimentação. Em um determinado momento, perguntei: "e se alguém cuidasse inteiramente das tuas refeições, ou seja, se preparasse coisas gostosas, saudáveis e variadas, nas quantidades certas, se te avisasse os horários de comer, fizesse as compras no supermercado com você... você acha que seria mais fácil emagrecer? Será que a reeducação alimentar seria tão penosa?"

"Ah, aí seria muito mais fácil, sem comparação! Aí não teria que me preocupar o tempo todo com como fazer, com o que fazer, poderia relaxar.

Pois é...

A gente sempre ouve que "comida de dieta" é sem graça, que é difícil abandonar os alimentos gostosos e muito calóricos. Mas acredito que a dificuldade vai muito além da qualidade sensorial da dieta em si.
Contribui, e de forma forte, o esforço que se deve fazer com o planejamento, e também frente às diversas escolhas que nos são apresentadas.

O quanto da dificuldade não estaria, exatamente, em se ter a "oportunidade", e até mesmo "obrigação", de fazer várias escolhas alimentares durante o dia? Cada escolha, uma chance de fracasso. Muitas delas, responsáveis pela hiperfagia, são feitas sem que nem percebamos! Ainda mais que, nesses momentos, estão influenciando outros fatores, como o tempo disponível para a refeição, a presença de distrações, sentimentos diversos, falta de alternativa saudável, maior facilidade da alternativa engordativa, etc.

Nessa situação hipotética e ideal, que coloquei para a paciente, estaríamos eliminando diversas variáveis complicadoras do autocontrole. Uma atitude importante, então, seria tomar as rédeas do planejamento do dia alimentar, colocando-se no lugar de cuidador e organizador.

O quanto mais for possível prever as dificuldades, mais preparados poderemos estar frente a elas, sem termos que decidir na hora, e rapidamente, um plano de ação.

Se sei que vou comer um lanche às 15 horas, por exemplo, controlo-me bem melhor frente à vontade de beliscar que surge às 14:30.

Se já está determinado de antemão o que vou comer, quando, etc., o controle alimentar é muito mais fácil. Organizar o dia alimentar ajuda a organizar a cabeça! Planejando de antemão, podemos ficar menos "alertas" e relaxar um pouco, não tendo que decidir o tempo todo coisas a respeito da alimentação.

Facilitar o preparo, deixar porções prontas... vamos abusar dos recursos de previsão e planejamento!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

...é o puro creme do milho?


Fiquei, confesso, um pouco chocada ao ler um artigo que descrevia o que havia por trás da aparência “natural” de uma espiga de milho. O autor começa: “o que representa melhor a generosidade da natureza que uma espiga de milho?” e, depois de descrever tal alimento com muitos detalhes suculentos, brinca “o milho parece um presente da natureza; já vem até embrulhado”. Porém, alerta enfaticamente em seguida, as aparências podem enganar.

Opa, pensei... em se tratando de comida, tal afirmação é especialmente um sinal de alerta. Como assim, corro o risco de não saber exatamente o que estou ingerindo?! Principalmente quando se trata de um alimento que considero, quase que instintivamente, natural... vivo em um mundo que incentiva a procura cada vez maior de alimentos ditos naturais...

O que consideramos natural? A definição mais comumente aceita é a de que algo natural é autêntico, puro, saído da natureza, e não degradado pelos seres humanos. Acabamos associando fortemente o natural ao benéfico, ao sadio. Numa pesquisa em que pessoas de vários países tinham que indicar os três primeiros termos que lhes vinham à mente quando ouviam a palavra “natural”, quase a totalidade dos mesmos tinham conotação positiva; muito mais, inclusive, que os termos utilizados quando se pediam associações para “carne” ou “comida”. Percebi, lendo o artigo, que além de eu gostar de milho, sinto-me bem comendo milho, considero-o bom para mim por ser “natural”.

Todavia, se nos prendermos ao termo “puro”, será que existem mesmo alimentos tão naturais? A realidade é que, desde antes do evento da agricultura, nós selecionamos e modificamos as plantas que comemos, ainda que involuntariamente. E o que começou como um processo involuntário de seleção tornou-se deliberado; agricultores primitivos começaram a propagar características desejáveis de propósito. Com novas tecnologias, novas descobertas, outras intervenções são feitas visando uma maior produção, tornar o produto mais atraente, ou melhorar a qualidade nutricional do alimento.

O milho é atualmente a planta cultivada que atingiu o mais elevado estágio de domesticação, uma vez que perdeu a capacidade de sobrevivência sem intervenção humana. Suas características foram tão modificadas para convir, cada vez mais, aos seres humanos, que ele não é mais viável na natureza!

O “milho ancestral” é o teosinto, um capim silvestre nativo da região que é hoje o México. É uma planta pequena, que dá de cinco a doze grãos, pequenos, que ficam protegidos no interior de invólucros duros, e que caem quando maduros. Com a intervenção humana, o milho passou a ser uma planta de um caule só, com até 500 grãos por espiga, que são expostos, e não caem. Muito diferente! E mais: o milho só pôde se tornar base principal das dietas de vários povos americanos com a ajuda de mais uma intervenção humana – baseada no tratamento com hidróxido de cálcio, que provoca a liberação de niacina (vitamina B3) do grão, que de outra forma não poderia ser aproveitada pelo nosso organismo.

Assim como o milho, o arroz e o trigo também foram transformados em gêneros mais convenientes e abundantes. E os vários tipos de couve e de brócolis são variantes da mostarda selvagem, resultados de experimentações humanas. E assim vai...

Não quero, com esta reflexão, dizer que o que é modificado ou alterado por nós, humanos, é ou não é bom. Que o milho, por ser planta domesticada, não é bom. Quero chamar a atenção, isso sim, para nossa ingenuidade frente a alguns conceitos (como o de “natural”); para o nosso desconhecimento em relação a idéias que nos motivam (idéias subjacentes, características da nossa época, da nossa cultura) e que acabam determinando fortemente as nossas escolhas alimentares.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Mais açúcar do que imaginamos!







Interessante o site de Marshall (http://marshallbrain.com/science/)! Tem vídeos com experimentos fáceis de fazer e bastante ilustrativos.

Nesse vídeo que coloquei aqui, ele mede quanto açúcar tem numa latinha de refrigerante. No caso do experimento, são 39 gramas. Ele propõe que peguemos 39 gramas de açúcar, então (com ajuda de uma balança ou de medidas equivalentes), e coloquemos sobre um papel. É uma ótima forma de visualizar o açúcar consumido quando se bebe, "ingenuamente", uma latinha.
Dá para fazer isso olhando nas informações nutricionais da bebida. No caso da latinha de refrigerante, vamos arredondar para 40 gramas de açúcar. Supondo que uma colher de chá tenha por volta de 4 gramas, 40 gramas equivalem a 10 colheres de chá! Coloque esse tanto de açúcar num prato e olhe bem para ele! Dá para acreditar? Você comeria esse mesmo tanto de açúcar, se ele não estivesse "disfarçado", dissolvido na bebida?
Será que são necessárias 10 colheres de chá de açúcar, para ficar gostoso?? Marshall sugere que se encha um recipiente com água (mais ou menos 350 ml) e que se vá acrescentando colheres de açúcar. A cada colher, experimentar. Com quantas colheres de açucar fica bom?
Num programa de educação em saúde, fizemos um refrigerante na frente dos alunos. Usamos água com gás, limão e açúcar. Este último foi sendo colocado pouco a pouco na garrafa de 2 litros, com ajuda de uma colher de sopa. Íamos acrescentando açúcar e a cada 5 colheres, pedíamos que experimentassem o refrigerante e dissessem se estava bom, se se parecia com um refrigerante comprado no supermercado. Foi divertido. Chegamos a mais de meio quilo de açúcar para que se parecesse com um refrigerante! Foi um susto! Legal que ficamos sabendo, depois, que muitos deles reduziram a quantidade de refrigerantes no seu dia-a-dia!!
Para finalizar, do blog Vitaminado, da minha amiga Márcia Daskal:
(...) um terço do consumo energético médio e do consumo de açúcar dos norte-americanos vem dos refrigerantes. Com um agravante: doce líquido não gera saciedade, só aumenta o centro da fome! Ou seja: você bebe, esse açúcar é absorvido rápido, dá pico de insulina, que faz estocar gordura, gera hipoglicemia, que faz comer mais, estimula o centro da fome no cérebro… Por isso, nem pense em matar a vontade de doce bebendo refrigerante. É melhor comer um doce, que satura as papilas gustativas e sacia.
Antes de pensar como os americanos são incríveis, pense no que tem acontecido com o tamanho das garrafas de refrigerante no Brasil nos últimos anos. Ou nos copos que são vendidos no cinema e em combos das cadeias de fast food.
O Brasil já é o terceiro consumidor mundial de refrigerantes, atrás apenas de Estados Unidos e México. Aqui, o consumo per capita de açúcar proveniente de refrigerantes é de 6,3 kg por ano, ou cerca de 13% do consumo anual (per capita) de açúcar no país. Pense: são 6 sacos de açúcar por ano! Em 2007, o consumo de refrigerantes no Brasil cresceu 7%."

sábado, 21 de julho de 2012

Menos é mais


A gente é, literalmente, bombardeado por notícias, informações, imagens, novidades sobre alimentação e hábitos saudáveis. Todos sabemos tudo sobre dietas, propriedades dos alimentos, etc., etc., etc. Se informação, pura e simplesmente, resolvesse... seria já um ótimo começo. Porém, mais que isso, há muita informação deturpada, meias verdades apresentadas como dados científicos, mitos que se espalham, dietas milagrosas que se encaixam perfeitamente nos nossos desejos de resultados rápidos...

Também há um cansaço, uma poluição mental causada pelo excesso. Vemos tanto, ouvimos tanto, que tudo perde em real importância. Acostumamo-nos, e nada mais choca ou chama realmente atenção.

O que seguir? Dar importância para qual informação?

Menos é mais, penso eu. Voltemos ao princípio, limpemos a cabeça por completo e partamos do básico. A verdade, nua e crua, é que não há milagres. Refeições balanceadas, frutas e verduras na dieta, menos alimentos industrializados, atividade física... e um profissional especializado para nos dar as orientações corretas. Enfim...

terça-feira, 17 de julho de 2012

Começando diferente: auto-eficácia e efeito-sanfona.


Frente à grande quantidade de pessoas que iniciam um programa de perda de peso e desistem, ou que chegam ao peso desejado mas fracassam na manutenção, nos perguntamos: será que é possível prever o sucesso do emagrecimento, antes mesmo de começar o tratamento?

Se tivermos idéia de que variáveis estão envolvidas com tal sucesso, podemos evitar que a pessoa que deseja perder peso inicie um processo em vão, criando mais frustração e descrença ainda. O "efeito-sanfona" não é prejudicial apenas em termos fisiológicos. Também tem consequências devastadoras do ponto de vista psicológico.

Na psicologia tem um conceito que está diretamente relacionado ao sucesso na manutenção do peso: é o conceito de AUTO-EFICÁCIA, que é a avaliação que cada indivíduo faz da sua própria performance, de sua ação no mundo, da sua capacidade de modificar as coisas através da sua própria ação. Quanto mais experiências de sucesso eu tenho, e as reconheço como devidas aos meus esforços pessoais - e não a fatores externos ou sorte - mais garantia de que vou persistir nos meus objetivos por longo tempo. Quer dizer, se acredito que minha ação faz diferença, vou agir com mais força e superar obstáculos com mais facilidade e dedicação.

Voltando à questão do efeito-sanfona: como estaria o sentimento de auto-eficácia da pessoa após diversas tentativas de perda de peso? Zero, não é? Ela pode até começar outra dieta... mas já com o pé esquerdo, com grande previsão de fracasso!

O que eu quero enfatizar com tudo isso, é o cuidado que devemos ter ao iniciar um programa de perda de peso. Não adianta começar e pronto. Não devemos pensar "apenas em perder peso, seja do jeito que for". Devemos reconsiderar, pensar sobre esses sentimentos de impotência acumulados em nós para tentar mudá-los, enfrentá-los de frente. O ideal é pensar na manutenção desde o início: o que podemos já ir construindo e aprendendo para que não voltemos a engordar. Assim damos chance de sentir as consequências positivas de cada atitude bem pensada, aumentando - e muito - a chance de persistir na mudança de comportamento.


terça-feira, 10 de julho de 2012

Uma questão de volume!





"Se a pessoa achar que comeu menos do que o volume a que está acostumada, pensará que está com fome".

Interessante... quer dizer, se eu como algo super-nutritivo e calórico, mas que seja bem menor em volume do que tenho costume de comer, ficarei com a impressão de não ter comido o suficiente?!?

A verdade é que não paramos de comer apenas quando sentimos o nosso estômago cheio. Há diversos fatores influenciando a saciedade: o quanto mastigamos, o quanto saboreamos, o quanto engolimos, o quanto pensamos na comida, há quanto tempo estamos comendo...

A percepção do tamanho da porção de alimento é uma deixa utilizada por nós para inferir se já comemos o suficiente. Normalmente, tentamos comer a mesma quantidade visível de comida a que estamos acostumados.

A Dra. Bárbara Rolls da Universidade de Penn State fez o seguinte: fez um hambúrguer de 125g ficar parecido com um de 250g, acrescentando-lhe alface e tomate sem o apertar antes de servir. Uma pessoa com hábito de comer o hambúrguer de 250g fica satisfeita com a nova combinação, mesmo tendo comido menos calorias que o de costume.

A mesma coisa podemos fazer com nosso prato de comida: se enchermos metade dele com verduras e legumes, e a outra metade com carne, arroz e feijão, por exemplo, diminuiremos as calorias e mantemos o volume de comida com o qual estamos habituados.

Não custa tentar!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

AMAR



Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

(Drummond)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A arte de produzir fome - texto de Rubem Alves




Adélia Prado me ensina pedagogia. Diz ela: "Não quero faca nem queijo; quero é fome". O comer não começa com o queijo. O comer começa na fome de comer queijo. Se não tenho fome é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de arranjar um queijo...

Sugeri, faz muitos anos, que, para se entrar numa escola, alunos e professores deveriam passar por uma cozinha. Os cozinheiros bem que podem dar lições aos professores. Foi na cozinha que a Babette e a Tita realizaram suas feitiçarias... Se vocês, por acaso, ainda não as conhecem, tratem de conhecê-las: a Babette, no filme "A Festa de Babette", e a Tita, em "Como Água para Chocolate". Babette e Tita, feiticeiras, sabiam que os banquetes não começam com a comida que se serve. Eles se iniciam com a fome. A verdadeira cozinheira é aquela que sabe a arte de produzir fome...

Quando vivi nos Estados Unidos, minha família e eu visitávamos, vez por outra, uma parenta distante, nascida na Alemanha. Seus hábitos germânicos eram rígidos e implacáveis.

Não admitia que uma criança se recusasse a comer a comida que era servida. Meus dois filhos, meninos, movidos pelo medo, comiam em silêncio. Mas eu me lembro de uma vez em que, voltando para casa, foi preciso parar o carro para que vomitassem. Sem fome, o corpo se recusa a comer. Forçado, ele vomita.

Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim "affetare", quer dizer "ir atrás". É o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.

Eu era menino. Ao lado da pequena casa onde morava, havia uma casa com um pomar enorme que eu devorava com os olhos, olhando sobre o muro. Pois aconteceu que uma árvore cujos galhos chegavam a dois metros do muro se cobriu de frutinhas que eu não conhecia.

Eram pequenas, redondas, vermelhas, brilhantes. A simples visão daquelas frutinhas vermelhas provocou o meu desejo. Eu queria comê-las.

E foi então que, provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar se pôs a funcionar. Anote isso: o pensamento é a ponte que o corpo constrói a fim de chegar ao objeto do seu desejo.

Se eu não tivesse visto e desejado as ditas frutinhas, minha máquina de pensar teria permanecido parada. Imagine se a vizinha, ao ver os meus olhos desejantes sobre o muro, com dó de mim, tivesse me dado um punhado das ditas frutinhas, as pitangas. Nesse caso, também minha máquina de pensar não teria funcionado. Meu desejo teria se realizado por meio de um atalho, sem que eu tivesse tido necessidade de pensar. Anote isso também: se o desejo for satisfeito, a máquina de pensar não pensa. Assim, realizando-se o desejo, o pensamento não acontece. A maneira mais fácil de abortar o pensamento é realizando o desejo. Esse é o pecado de muitos pais e professores que ensinam as respostas antes que tivesse havido perguntas.

Provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar me fez uma primeira sugestão, criminosa. "Pule o muro à noite e roube as pitangas." Furto, fruto, tão próximos... Sim, de fato era uma solução racional. O furto me levaria ao fruto desejado. Mas havia um senão: o medo. E se eu fosse pilhado no momento do meu furto? Assim, rejeitei o pensamento criminoso, pelo seu perigo.

Mas o desejo continuou e minha máquina de pensar tratou de encontrar outra solução: "Construa uma maquineta de roubar pitangas". McLuhan nos ensinou que todos os meios técnicos são extensões do corpo. Bicicletas são extensões das pernas, óculos são extensões dos olhos, facas são extensões das unhas.

Uma maquineta de roubar pitangas teria de ser uma extensão do braço. Um braço comprido, com cerca de dois metros. Peguei um pedaço de bambu. Mas um braço comprido de bambu, sem uma mão, seria inútil: as pitangas cairiam.

Achei uma lata de massa de tomates vazia. Amarrei-a com um arame na ponta do bambu. E lhe fiz um dente, que funcionasse como um dedo que segura a fruta. Feita a minha máquina, apanhei todas as pitangas que quis e satisfiz meu desejo. Anote isso também: conhecimentos são extensões do corpo para a realização do desejo.

Imagine agora se eu, mudando-me para um apartamento no Rio de Janeiro, tivesse a idéia de ensinar ao menino meu vizinho a arte de fabricar maquinetas de roubar pitangas. Ele me olharia com desinteresse e pensaria que eu estava louco. No prédio, não havia pitangas para serem roubadas. A cabeça não pensa aquilo que o coração não pede. E anote isso também: conhecimentos que não são nascidos do desejo são como uma maravilhosa cozinha na casa de um homem que sofre de anorexia. Homem sem fome: o fogão nunca será aceso. O banquete nunca será servido.

Dizia Miguel de Unamuno: "Saber por saber: isso é inumano..." A tarefa do professor é a mesma da cozinheira: antes de dar faca e queijo ao aluno, provocar a fome... Se ele tiver fome, mesmo que não haja queijo, ele acabará por fazer uma maquineta de roubá-los. Toda tese acadêmica deveria ser isso: uma maquineta de roubar o objeto que se deseja...


Rubem Alves é educador, escritor, psicanalista e professor da Unicamp.





terça-feira, 3 de julho de 2012

O doce, as abelhas e os problemas metabólicos


Cientistas da Universidade do Estado do Arizona descobriram que as abelhas podem nos ensinar a respeito de conexões básicas entre a percepção dos gostos e problemas metabólicos em humanos.

Fazendo experimentos com a genética das abelhas, os pesquisadores identificaram conexões entre a sensibilidade ao açúcar, a fisiologia do diabetes e o metabolismo dos carboidratos. Abelhas e seres humanos podem compartilhar parcialmente essas conexões.
Os pesquisadores explicam como, pela primeira vez, conseguiram tornar inativos dois genes no módulo de regulação de comportamentos relacionados à comida, na abelha. Fazendo isto, eles descobriram um possível link molecular entre a percepção do sabor doce e o estado de energia interna.
A sensibilidade da abelha ao açúcar revela sua atitude em relação à comida, a idade dela quando começou a procurar néctar e pólen e o tipo de comida que prefere coletar. Ao suprimir esses dois genes, as abelhas tornaram-se mais sensíveis ao gosto doce. Interessantemente, estas abelhas também tinham os níveis de açúcar no sangue bastante elevados, e baixos níveis de insulina, semelhante às pessoas que têm Diabetes tipo 1.
Os pesquisadores estão tentando compreender exatamente como se aumentou a percepção ao gosto doce, com o experimento. O tecido mais ativo metabolicamente na abelha pode dar a resposta. Esse tecido é semelhante ao fígado e à gordura abdominal em humanos, já que ajuda no armazenamento de nutrientes e na criação de energia.
A percepção do gosto evoluiu como um mecanismo de sobrevivência, tanto para as abelhas quanto para os seres humanos. Por exemplo, comidas amargas podem conter veneno, ou o gosto doce pode significar que a comida é rica em calorias. Em todos os animais, a percepção dos gostos deve comunicar-se adequadamente com o estado energético interno para controlar a ingestão de alimentos e manter as funções vitais normais. Sem isso, uma percepção pobre de gostos pode contribuir para comportamentos alimentares não saudáveis e problemas metabólicos, como diabetes e obesidade.

sábado, 30 de junho de 2012

Meditemos


Zen é vida. Portanto, comer é indispensável para o Zen. No que se refere ao ato de comer, devemos considerar três elementos: os ingredientes, o modo de fazer e a pessoa que come.

Nas receitas, no entanto, as medidas não são precisamente determinadas. O fundamental para quem vai cozinhar é a liberdade de criar e se expressar na execução de cada prato. A harmonia entre os sabores é algo que o cozinheiro deve buscar, liberto de receitas com valores exatos.

Se os seis sabores (amargo, azedo, doce, quente, salgado e suave) não estiverem em harmonia e à comida faltarem as três virtudes (suavidade, limpeza e formalidade), então a oferenda do Tenzo (monge cozinheiro) à congregação não estará completa.

Se o Sodô, o templo da meditação, é considerado essencial para a vida monástica, a cozinha é tida no mesmo nível de importância e também é considerada um templo, o Tenzoryo. Se no primeiro, alimenta-se a mente, no segundo alimenta-se o corpo. Para os budistas, um não existe sem o outro.

As refeições são realizadas sempre em silêncio. O trato com o Oryoki (conjunto de tigelas) segue um código sofisticado, que chama a atenção do praticante para aquilo que está fazendo no momento. Os monges budistas seguem uma seqüência ritualizada de procedimentos, com atenção voltada a cada detalhe. Cada um deles leva consigo seu próprio conjunto de utensílios, embrulhado em uma trouxinha de pano. São feitas preces e reverências antes, durante e ao término da refeição, quando as tigelas e talheres – que foram delicadamente lavados à mesa – voltam a ser envolvidos na toalhinha de pano.

Os gestos precisos e detalhes harmoniosamente coreografados exigem atenção máxima. Alimenta-se usando todos os sentidos, degustando a variedade de sabores, temperaturas, a fragrância que exala do prato, o movimento da mastigação.

Oryoki (do japonês ooryooky) significa “tigela”, mais precisamente, uma tigela do tamanho do estômago. A relação entre tigela e estômago já transmite a idéia de equilíbrio, de se alimentar do necessário e na quantidade que o corpo precisa – nem mais, nem menos.

Monja Coen ressalta que “o oryoki é uma prática meditativa na medida em que estou comendo com plena atenção. Estou em silêncio, sentindo a fragrância e o sabor dos alimentos. Percebi a rede de interdependência de todas as formas de vida”.

Todos os procedimentos são realizados com as duas mãos. Não se pega uma tigelinha com uma das mãos, enquanto a outra manuseia os hashis, por exemplo. O foco tem de estar totalmente voltado para o que se está fazendo, o que naturalmente demanda mais atenção. “Isso tudo é treino de meditação”, diz a monja. Por mais complexa que pareça, a prática do oryoki traz um benefício simples: o reencontro com a paz no momento da refeição. A idéia é deixar tudo o que não for inerente à alimentação bem longe da mesa.
(Fontes: www.mosteirozen.com.br; Revista Meditação)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Grelina, Estresse e Depressão





Mais um estudo que relaciona o estresse ao aumento da ingestão alimentar!

Parece que a grelina, conhecida como o "hormônio da fome", não é secretada apenas quando os estoques de energia do corpo estão baixos. Sua liberação também ocorre em resposta a estímulos estressores.

Faz sentido, já que geralmente situações de estresse exigem que o organismo gaste mais energia. O estresse crônico leva, então, a níveis cronicamente elevados desse hormônio, juntamente com um aumento do apetite e ganho de peso.

Viu-se, porém, que quando os receptores de grelina são bloqueados farmacologicamente, os indivíduos ficam mais suscetíveis a comportamentos depressivos em face a situações de estresse. Ou seja, embora a secreção de grelina em resposta ao estresse possa levar ao aumento da fome e ao comer em excesso, organismos que não obtêm tal resposta podem ser mais propensos a desenvolver sintomas de depressão quando estressados.

Interessante!






quinta-feira, 28 de junho de 2012

Probleminhas...

Alguns problemas comuns que dificultam muito a perda de peso nos passam despercebidos.

Pular refeições é um deles.

Por exemplo, há um padrão bastante frequente, que é a pessoa que pula o café da manhã, não faz lanches entre as refeições, come salada ou muito pouco no almoço... aí come mais no jantar e tem muita dificuldade em manter o controle alimentar à noite. Dá para entender a sensação que essa pessoa tem de que está comendo muito pouco, já que passa a maior parte do dia comendo muito pouco mesmo. Mas o problema é que, quando vai comer à noite, está com fome. E quando estamos com fome, o nosso corpo está ansiando por calorias! O que acontece? Por um lado, é verdade que a pessoa do exemplo está comendo apenas uma refeição substancial por dia. Mas por causa da fome, ela está comendo mais calorias do que seu corpo gasta durante todo o dia e, portanto, ganhando peso. Moral da história: para perder peso não se pode ficar com fome. Comer a cada 3 horas e incluir proteínas em cada refeição e lanche é uma forma de lidar com isso.

Comer fora de casa é outro problema para o emagrecimento.

As pessoas muitas vezes têm a impressão de que estão comendo de forma saudável, que fazem boas escolhas quando em restaurantes. Infelizmente, mesmo opções mais saudáveis em restaurantes são geralmente mais calóricas do que imaginamos. Se a pessoa come fora várias vezes por semana, aí está uma forte razão para não emagrecer ou até para engordar. Talvez um meio termo seja comer fora apenas em ocasiões especiais, comemorações... e tentar se planejar para comer comida feita em casa no dia-a-dia. E, é claro, continuar a fazer escolhas mais saudáveis quando for comer fora.

As calorias que bebemos são também uma questão séria e um frequente fator de engorda.

Suponha que a pessoa coma de forma correta, respeitando as porções e os intervalos entre as refeições, mas beba coisas calóricas: leite integral, suco adoçado, vinho... todos os dias. Em um ano, as calorias bebidas fazem grande diferença no peso! E a pessoa nem percebeu sua ingestão! Mesmo que sejam bebidas saudáveis, são uma faca de dois gumes, e devem ser controladas.

(baseado em post do blog Weighty Matters)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Terapia Cognitivo-Comportamental e perda de peso


Muitas e muitas vezes ouvi, no consultório: "se eu sei o que fazer, por que não sigo as recomendações?“. O fato de sabermos o quê e quanto comer é fundamental, mas não suficiente para que se tenha sucesso no emagrecimento. 
A verdade é que não basta saber, e não basta querer. O comportamento alimentar é muito complexo, com diversos determinantes, nem sempre claros para nós.
Segundo a Terapia Cognitivo-Comportamental, para que a perda de peso seja possível e, mais ainda, a sua manutenção, o autoconhecimento e uma maior clareza dos próprios comportamentos e motivações relacionados ao comer e ao corpo são o primeiro passo. São, então, necessárias diversas modificações comportamentais e cognitivas (de pensamento, crenças, imagens mentais), conseguidas num clima de trabalho conjunto e colaborativo.
A Terapia Cognitivo-Comportamental é hoje considerada um tratamento de primeira linha para o excesso de peso. É uma intervenção objetiva, orientada por metas e prioritariamente voltada para o presente e para o futuro. Tem como objetivo implementar estratégias que auxiliam no controle e na manutenção do peso perdido, baseando-se na análise e na modificação de comportamentos e pensamentos disfuncionais associados ao estilo de vida do paciente.
Visando uma maior autonomia e autocontrole, trabalha-se em direção a mudanças no ambiente, mudanças de hábitos, de estilo de vida, de atividade física. Também se busca as mudanças de pensamentos e crenças em relação aos alimentos, ao corpo, a si mesmo, e uma maior compreensão dos sentimentos e da forma como estes influenciam o comer. Utilizam-se técnicas de controle de estresse e técnicas para melhorar as noites de sono.
Quando em grupo, a Terapia Cognitivo-Comportamental tem o benefício de um ambiente de apoio e cumplicidade, de troca de experiências, de identificação. Eu, particularmente, gosto muito de trabalhar assim.
 Que tal? Animou-se?

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Desafio ao Chef



Tem, no suplemento Paladar, do Estadão, uma sessão que se chama Desafio ao Chef: são propostos a um chef alguns ingredientes (muitas vezes bastante exóticos e estranhos entre si), e ele precisa inventar uma receita a partir de todos eles. Pode acrescentar outras coisas, também, mas tem que utilizar todos aqueles que lhe foram propostos como principais. E tem que ser uma receita inédita.

Houve um desafio que transformou cupim, avocado, maxixe e cebolinha em um saboroso "Cupim ao molho de cabernet sauvignon e purê de avocado"; outro fez dos quatro ingredientes sugeridos (flor de abóbora, pistache, ricota e arenque) um très chic "Cannolo de ricota e pistache, creme de flor de abobrinha e aspic de arenque defumado".

Mas não é de culinária (ou somente de culinária) que eu quero falar! Quero pensar no desafio ao chef como metáfora para a vida: somos nós, também, desafiados com "ingredientes" oferecidos pela realidade de quem somos, pela própria experiência, pela nossa história. Muitas vezes, ingredientes "exóticos e estranhos entre si".

É isso que se é, é isso que se tem... o que fazer com isso? Em que transformar? O que construir?

Como os chefs que participaram da proposta do suplemento Paladar, a regra no desafio da vida é que não se pode negar o que se tem. Não adianta pensar que seria melhor se fosse... daquele outro jeito, sem essa ou aquela característica nossa que preferíamos que não existisse. Não adianta se ater ao fato de que tal ingrediente não combina com o resto, ou estraga o prato.

Muitas vezes ficamos nos questionando os porquês. Lamentamos não ser como o outro. Não ter o que o outro tem. Temos admiração e inveja do outro, frente ao qual nos sentimos diminuídos. Não por alguma atitude dele, mas por causa do nosso próprio modo de ver as coisas. Perguntamo-nos por que não nos foi dada tal sorte... e ficamos estanques.

Muitas vezes queríamos "arrancar" de nós certo jeito de funcionar que nos atrapalha muito. "Se não fosse por isso... eu poderia crescer!", pensamos. E ficamos lutando para eliminar o indesejado por completo, pela raiz.

Qual o segredo dos chefs? Como fazer sentido e dar um nome a uma receita feita com ingredientes que nos são dados? E como fazer com que a receita seja gostosa e interessante? Antes de mais nada, os chefs consideram os ingredientes que têm! Não se questionam nem se lamentam: "por que me deram justo esses ingredientes?!" Pensam: COMO vou utilizar o que eu tenho para fazer algo legal e que me deixe satisfeito?

E não pensem que eles acertam de imediato. Como na vida, a cozinha é basicamente experimental!

Cada pessoa tem seus ingredientes, suas características, seu potencial, seus recursos. Isso é único! O sucesso do resultado de cada um depende da combinação (e re-combinação) criativa dos seus possíveis. E muito da satisfação ocorre antes do prato ficar pronto: vem do prazer de cozinhar!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Corpos de consumo



Achei interessante comentar aqui uma colocação de Lola:

Sabe, Lia, fico me perguntando, às vezes, o por quê de tanta luta contra "ser gorducho"...se toda a nossa maneira de viver atual leva para este caminho - ser mais gordo - como lutar contra a sociedade inteira para atingir um modelo ultrapassado? Acho que estamos passando por uma época de transição: sobrevivem os corpos que se adaptam à esta nova realidade! Ou, então, a sociedade se conscientiza e entra censura na mídia de alimentos, quebra-se os computadores e todos os carros para que as pessoas tenham que andar, ilimina-se o telefone sem fio, etc..etc..etc..Do jeito que estamos lutando hoje contra nós mesmos, é um pesadelo...nadamos contra uma maré e ainda nos sentimos culpados! Qdo socialmente os alimentos, assim como bens materiais, forem distribuídos de maneira igual entre as populações e indivíduos, aí talvez conseguiremos o verdadeiro padrão de beleza...Se não, daqui a alguns anos, penso eu, as populações serão divididas entre os obesos e os sub-nutridos assim como os podres de ricos e os miseráveis!

Pois é... o mesmo mundo que cria e alimenta nosso sedentarismo e hiperalimentação, exige de nós total responsabilidade pela adequação dos nossos corpos ao padrão de beleza idealizado. Ou seja, é um mundo que nos bombardeia com variedade, comidas altamente calóricas, facilidade de obter tudo "sem esforço" (delivery, por exemplo), e também oferece uma infinidade de tecnologias e "milhões de possibilidades" para alcançarmos o corpo perfeito: comidas light e diet, cirurgias, cremes, exercícios, dietas... E se há todas essas possibilidades de transformar o corpo, "só não é lindo quem não quer"... ou quem não tem "a menor força de vontade". Ter controle sobre o próprio corpo e alimentação, seja para emagrecer ou até para alcançar um status de "imortalidade", de um corpo sempre jovem e saudável, é sinal de força moral, de valor pessoal.

Em nome do corpo idealizado tomamos atitudes que extrapolam o âmbito da estética, e entramos em domínio político: fazemos escolhas de amizades, de admiração, de afeto, e, como não poderia deixar de ser, justificamos atos de isolamento, discriminação e exclusão social. A forma física é idéia vendida como garantia de felicidade e sucesso, de reconhecimento, de direito de amar e ser amado.

O corpo idealizado é o corpo do consumo. Os padrões de beleza são ditados pelo mercado, e são muito rígidos. Para ter o corpo da moda, muito esforço é necessário. Um esforço sobre-humano. Impressionante como o marketing (e, olhem, não apenas ele...) nos impõe desejos. Toca-nos no ponto, na ferida (quem não quer ser amado, reconhecido, admirado?), e cria necessidades. Necessidades que, por princípio, não devem nunca ser satisfeitas, pois é do desejar, sempre mais, sempre outra coisa, que esse sistema de consumo se alimenta.

É contraditório, até, se pensarmos que a mesma lógica (de consumo) que nos faz buscar ser diferentes, especiais, que nos deposita a responsabilidade por sermos individuais e com poder de decisão, é a lógica que nos transforma a todos num mesmo, sem particularidades, matando nossas diferenças. Quantas Barbies e Ken' s vocês viram por aí, hoje? Nas revistas que falam das celebridades, tem um montão deles...

Estamos presos nessa falsa liberdade de escolha, e no meio de tantas opções. Por onde começar a procurar a ponta do novelo, para desfazê-lo? Talvez o ponto de partida seja a noção de que a sociedade não nos determina de forma absoluta, no sentido de incorporarmos pura e simplesmente seus ditames. Na realidade, a relação indivíduo - sociedade é dialética: não somos apenas determinados, somos também determinantes. Pensemos nisto!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Lições tiradas de esforços passados

Nas suas tentativas anteriores de perder peso, o que efetivamente funcionou? Que atitudes, que dicas, que truques...? E o que não funcionou? Que tipo de dieta alimentar combina mais com você?

É realmente difícil de responder. O que guardamos de experiências anteriores é que "a dieta deu errado", ou que "deu certo só por um tempo". Levamos conosco, também, uma queda substancial no sentimento de auto-eficácia - não consigo levar adiante uma dieta alimentar, não sou capaz de persistir, sou impotente frente ao meu desejo e necessidade de perder peso, sou fraco, não tenho força de vontade... Desta forma, cada recomeço acontece a partir da estaca zero, e cada vez com menos combustível!

É importante usar a própria experiência quando queremos nos arriscar numa nova tentativa. Não é possível não termos aprendido nada nos nossos esforços passados!

Aqui vai um exercício de recapitulação, de conscientização. Consiste em preencher a tabela fazendo um histórico dos esforços anteriores. É importante tentar ser detalhado no preenchimento das duas últimas colunas. Quanto ao tipo de dieta, é especificar se foi com ou sem remédio, com orientação médica ou nutricional, se foi num grupo tipo Vigilantes do Peso, etc.

Espero que ajude!


segunda-feira, 11 de junho de 2012

ESTRESSE E COMPULSÃO


O estresse ativa no cérebro um mecanismo hormonal que faz com que as pessoas comam doces, consumam drogas ou apostem em jogos de azar, segundo um artigo publicado na revista "BMC Biology".


Investigadores da Universidade do Michigan e de Georgetown, em Washington, realizaram um estudo onde injetaram em ratinhos de laboratório um fator que estimula a produção de corticotropina no cérebro, em níveis similares aos que se registam em seres humanos em situações de estresse.A corticotropina é o hormônio responsável pela biossíntese e pela secreção de certas substâncias do cortex.


"A substância cerebral do estresse triplicou a intensidade de desejo por alimentos com açúcar, por exemplo", assegurou o professor de psicologia da Universidade do Michigan, Kent Berridge.Este resultado explica porque é que as pessoas que sofrem de estresse têm mais chances de sentir desejos mais intensos por recompensas que se possam satisfazer de forma compulsiva com atividades que levam à sensação de prazer, como comer ou consumir drogas.


sábado, 9 de junho de 2012

Fome e Apetite


Há, essencialmente, dois diferentes sistemas motivacionais relacionados ao comportamento alimentar: o homeostático e o hedônico. As pesquisas que nos ajudam a distinguir (e a relacionar) tais sistemas têm se multiplicado, e um grande pesquisador na área é John Blundell, da Universidade de Leeds. Ele é um psicólogo especialista em fisiologia do comportamento alimentar, e atualmente estuda, entre outras coisas, o papel da serotonina no apetite, padrões alimentares e drogas anti-obesidade.

O sistema homeostático é regulado pela fome e pela saciedade. Se a pessoa passa o dia inteiro sem comer, por exemplo, e chega em casa morrendo de fome, sua tendência é ir direto para a geladeira e comer o que estiver a sua frente, até sentir-se "cheia". Esse comer, apesar de geralmente em exagero e rápido, é "comer homeostático".

O sistema hedônico, por sua vez, é regulado pelo apetite e pelas recompensas (prazerozas) decorrentes do comer. Supondo que a pessoa acabou de almoçar, volta para a frente do computador e se depara com todo o trabalho que ainda tem por fazer. Argh! Será que vai dar tempo? De repente, sente um desejo imenso de abrir a gaveta e de pegar um chocolate que sabe que está lá. Esse é o "comer hedônico", que ocorre por causa do prazer que aquele chocolate vai trazer naquele momento. Não tem nada a ver com fome ou com regulação energética do corpo.

São dois sistemas bastante diferentes. Ou seja, as moléculas e receptores responsáveis pela fome e saciedade são diferentes daqueles responsáveis pelo apetite e recompensa.

Clinicamente falando, tal distinção ajuda a pensar no melhor tratamento para determinado paciente que, por exemplo, come demais. Se for um "comer homeostático", precisamos corrigir seu padrão alimentar para resolver a fome. Se for um "comer hedônico", talvez tenhamos que ajudar o indivíduo a desenvolver estratégias - alternativas ao alimento - de enfrentamento que apaziguarão o "sistema do prazer". Eu acabo por ter como regra geral iniciar um tratamento com a reorganização do dia alimentar, de qualquer maneira. A ajuda de uma nutricionista é importante!

É fundamental nos lembrarmos que, biologicamente, os dois sistemas são interligados, e que o comportamento alimentar pode estimular características dos dois sistemas numa mesma refeição. Ou seja, as coisas se dão de forma bem mais complexa do que parecem nos exemplos que eu dei acima. Fome e apetite agem de forma conjunta! Basta notarmos que quando com muita privação alimentar, tendemos a atacar alimentos mais calóricos e mais gostosos, se tivermos escolha. Muito difícil estar morto de fome e atacar cenourinhas, se houver um pedaço de bolo ao lado!

Em seu blog o Dr. Arya Sharma cita um pesquisa recente de Saima Malik, da Universidade de McGill, em Montreal: Malik e colegas administraram grelina (chamado de "hormônio da fome", por estar fortemente associado ao "comer homeostático") em voluntários, e usaram um aparelho de ressonância para verificar quais partes do cérebro eram ativadas em resposta a fotos de guloseimas.

A grelina não apenas aumentou a sensação de fome, como era o esperado, mas também causou um incremento na atividade do sistema mesolímbico de recompensa do cérebro! E é esse o sistema que está envolvido nos comportamentos de adicção!

Como podemos ver, mesmo a grelina, sempre tão associada à homeostase, tem também uma ação no sistema hedônico!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Avaliação psicológica pré-cirúrgica dos candidatos à cirurgia bariátrica: considerações.

Muitos pacientes chegam cheios de resistência ao consultório do psicólogo: decididos a fazer a cirurgia da obesidade e encaminhados pelo cirurgião, temem qualquer impedimento que possa surgir durante a entrevista, qualquer veto. Dá para compreender. Essa não é, de jeito algum, uma decisão fácil. No mínimo a pessoa carrega, em incontáveis expectativas, emoções difíceis de elaborar. Para muitos, a gastroplastia é a luz no fim do túnel; é, finalmente, uma oportunidade de renascer.

A primeira coisa a ser considerada é a postura do psicólogo. Mais do que nunca se faz necessária a capacidade de compreender o paciente a partir de sua própria perspectiva, a aceitação, o acolhimento, a compreensão dos próprios preconceitos. Há trabalhos interessantíssimos sobre a determinância que tem tal postura do profissional no sucesso do tratamento de obesos, seja daqueles que vêm em busca de acompanhamento clínico para emagrecer ou daqueles que são caso de cirurgia.

A história do paciente é investigada, contada por ele. Em particular, as questões relacionadas ao peso, às tentativas anteriores de emagrecimento, a relação com seu corpo, com os outros, enfim... Falamos aqui de um levantamento de dados e, muito além disso, de um processo narrativo que ajuda a ressignificar, integrar, relacionar...

Cabe dizer que não é incomum haver um desejo tão grande de emagrecer que a questão da saúde acaba ficando, digamos assim, em segundo plano. Para o paciente parece ser óbvio que ele terá atenção com sua saúde após a cirurgia. Mas não é tão óbvio assim. Umas das expectativas que pacientes relatam é, por incrível que possa parecer, "a de não ter mais que se preocupar com o que comer, com dieta". Fazem a cirurgia, começam a emagrecer, deixam o cuidado com a alimentação saudável "para mais tarde". Afinal, prestar tanta atenção no que deve, no que não deve comer, tornou-se por demais aversivo durante tantas tentativas anteriores fracassadas. Ao se ver emagrecendo, foca-se em "curtir" a novidade.

É sabido que a cirurgia bariátrica afeta o paciente de diversas formas. Ele precisa:
  • ser capaz de lidar com as restrições iniciais na dieta,
  • acostumar-se a novos hábitos alimentares que deverão ser incorporados de forma definitiva,
  • lidar com novas sensações e experiências corporais,
  • adequar-se à mudança de sua imagem corporal,
  • adquirir novos comportamentos de cuidado de si,
  • lidar com novas cognições e sentimentos,
  • adequar-se a um diferente estilo de vida,
  • lidar com mudanças inesperadas e significativas nos relacionamentos pessoais que costumam ocorrer com certa freqüência após emagrecimento importante.
Como o paciente lidará com tudo isso? Tem ele recursos psicológicos para dar conta de tantas mudanças?

Basicamente, na avaliação pré-cirúrgica, o papel do psicólogo será o de identificar os fatores de risco psicossociais vinculados à realização da cirurgia, como a presença de alguma psicopatologia ou de atitudes e comportamentos que sabidamente complicariam o ajustamento pós-operatório. A partir de tal avaliação, vai fazer recomendações ao paciente e à equipe visando alcançar os melhores resultados possíveis com o procedimento, a curto, médio e a longo prazo. O psicólogo vai também auxiliar o paciente quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do pré e do pós-cirúrgico; vai ajudá-lo a tomar decisões mais conscientes e de acordo com seu caso particular.

O psicólogo irá avaliar, na entrevista com o paciente:
  • o senso de identidade,
  • a estabilidade emocional/humor,
  • a habilidade para compreender o risco da cirurgia e para dar seu consentimento de forma responsável,
  • as estratégias comportamentais que possui em seu repertório para lidar com situações diversas e difíceis,
  • a disposição a aceitar o suporte necessário,
  • a resiliência, ou seja, sua capacidade (psicológica) de suportar o trauma cirúrgico e de lidar de forma positiva com os diversos estressores e ajustamentos associados às mudanças de estilo de vida após a cirurgia,
  • a motivação e
  • o compromisso de seguir com os cuidados de longo termo, aprender novas habilidades e aderir a um programa de estilo de vida saudável, que inclui tomar decisões acertadas em relação ao cuidado de si e à necessidade de colocar limites.
Ou seja, avaliação psicológica implica abordagem multifacetada, isto é, a abordagem da questão nas perspectivas comportamental, cognitiva e emocional, de desenvolvimento, da situação atual de vida, da motivação e das expectativas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

PENSAMENTOS SABOTADORES



A maneira como as pessoas pensam afeta o que elas sentem e o que elas fazem. Por exemplo, alguém com crenças autoderrotistas interpretará um grande número de situações como sinais de fracasso e atribuirá tal fracasso a sua incapacidade ou fraqueza. Não levará em conta outras possibilidades - de que a situação era inevitável ou de que existiam soluções viáveis.

"Eu não consigo" é um bom exemplo de como este tipo de pensamento gera rigidez de atitude: "de que adianta agir se já sei que não consigo"? A mesma pessoa pode criar para si situações muitos diferentes - de muito boas oportunidades a momentos muito ruins - dependendo de como pensa.

A Terapia Cognitiva baseia-se no pressuposto de que se as pessoas aprenderem a pensar mais realisticamente, poderão se sentir melhor e alcançar mais facilmente suas metas. Temos muitos pensamentos automáticos disfuncionais (ou pensamentos sabotadores) que nos 'prendem' em sentimentos de tristeza, ansiedade ou impotência, ou minam nosso autocontrole.

No caso de quem precisa perder peso, pensamentos sabotadores muito comuns são:

Não tem problema se eu comer isso, porque...

Comer isso não vai fazer diferença...

É muito injusto eu não poder comer o que quero, ter nascido assim...

Já que exagerei um pouco, não adianta continuar, vou comer o que eu quiser o resto do dia.

Não posso desperdiçar alimentos.

Não adianta fazer dieta, tenho tendência a engordar.

Minha amiga vai pensar que sou mal educada se não comer o bolo que ela fez.

Não suporto estar com fome, nem ver algo delicioso na minha frente sem comer.

Ou seja, temos prontinhos em nossas mentes justificativas e motivos muito fortes e convincentes para comer o que não se deve! Cabe a nós identificá-los e 'pagar com a mesma moeda': a cada pensamento sabotador identificado, temos que tirar da manga uma resposta mais funcional e adaptativa. E repeti-la a cada situação, com persistência, pensando sempre nos motivos que se tem para perder peso.

Somos nosso próprio diabinho e nosso próprio anjinho!